É provável que você já tenha ouvido falar em “sororidade”. Arrisco dizer, inclusive, que conheça até a sua origem: “soror” quer dizer “irmã” em latim.
“Sororidade” seria, portanto, o feminino de fraternidade: “irmandade entre mulheres”.
Sabia disso? Parabéns.
Mas nem se avexe: esse texto também é para você.
Porque a origem da palavra está longe de explicar seu significado.
O que não é sororidade
Antes de explicar melhor o que é, quero falar sobre o que sororidade NÃO é:
– Amar todas as mulheres como irmãs.
– Ser amiga de todas as mulheres.
– Um manual de boas maneiras para ser considerada feminista.
– Concordar com posicionamentos e perdoar, sempre, todas as mulheres.
– Não ter problemas com nenhuma mulher.
– Correr juntas, de mãos dadas, pelos campos floridos do céu feminista.
Então, o que é sororidade?
A “irmandade” do termo não é individual. Ela diz respeito ao que nos une como mulheres. É a compreensão de que não estamos sozinhas ao lidar com questões como o machismo, a cultura do estupro, a cultura da pedofilia, o sexismo no mercado de trabalho, as expectativas sobre o gênero feminino.
Portanto, “sororidade” é a solidariedade coletiva entre mulheres, principalmente para lutar por causas feministas.
E a tal sororidade seletiva?
A sororidade, algo que nos conecta como grupo, não deve ser uma cartilha para manter o posto de feminista.
Se isso acontece, a ideia de “sororidade seletiva” começa a aparecer toda vez que uma mulher é questionada ou contrariada.
Toda vez que uma feminista não sorri e acena para mulheres em qualquer situação. Até mesmo quando posicionamentos tóxicos/violentos (de racismo à reprodução do machismo) estão sendo defendidos.
A ideia de sororidade seletiva é problemática
O conceito se torna problemático ao espelhar questões que queremos combater, como:
– A vilanização feminina;
– A socialização que exige da mulher ser “bem comportada”, “não ser egoísta” (leia-se: colocar o bem estar próprio na frente), não ser “reclamona/ braba/surtada”.
– A opressão de sempre precisarmos nos provar.
Não basta ser mulher, apoiar causas feministas e ser oprimida por situações semelhantes. É necessário também sentir e agir da certa forma para poder entrar no clubinho das feministas. É necessário se calar diante de erros de outras mulheres.
Sororidade seletiva existe?
Não e sim.
Não existe como um manual de boas maneiras para a mulher que se diz feminista.
Não existe como uma obrigação individual de amar todas as mulheres.
Mas existe quando o feminismo dá as costas para a interseccionalidade. Ou seja, quando o feminismo exclui das pautas e causas as opressões sofridas por mulheres que não são brancas, heterossexuais, de classes média e alta.
Mulheres também oprimem mulheres.
Mulheres podem ser racistas, fascistas, xenófobas, lgbtqfóbicas.
O conceito de sororidade não pode silenciar a mulher indígena, a mulher preta, a mulher da periferia, a mulher imigrante, a mulher lésbica.
Não pedimos que feministas abracem, perdoem e se calem diante de homens tóxicos.
Seria justo exigir isso quando a opressão vem de mulheres?