Com vocês, o Projeto Redigir
O Projeto Redigir é uma iniciativa de extensão universitária. A extensão é um dos pilares mais importantes de toda universidade, mas ela é – ou deveria ser – ainda mais importante nas universidades públicas. Você nunca ouviu falar nisso? Eu explico. Sabemos que a USP, por exemplo, é uma universidade pública, ou seja, é financiada com dinheiro público vindo de impostos, mais especificamente do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Sabemos também que apesar de todo mundo pagar impostos, apenas poucas pessoas têm acesso de fato à ela e ao conhecimento que se produz lá.
Para tentar acertar um pouco esse descompasso surgiu a extensão, como uma forma – ainda que pequena e insuficiente – de retornar para a sociedade o que ela investe na universidade por meio dos impostos. A extensão pode vir em forma de museus abertos ao público, de atendimentos de saúde física, mental ou animal, ou, entre outras coisas, de cursos.
Ainda que pública, ainda que de todos, a USP se fecha cada vez mais e exclui aqueles que a sustentam. A universidade literalmente construiu muros e colocou catracas para impedir o acesso de “pessoas estranhas”. Fazer extensão é discordar e lutar contra isso. É uma maneira de obrigar a universidade a direcionar pelo menos uma pequena parte de seus recursos para essas pessoas que são constantemente excluídas.
Fazer extensão é ótimo pra alma, mas nem tudo são flores. Extensão é também uma luta, porque claro que essa é a perna mais fraca do tal do tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão). Fazer extensão é ver o projeto que você tanto ama, e para o qual se dedica tanto, padecer ao realizar suas atividades, porque na crise foi a primeira coisa a ter a verba cortada.
Fazer extensão é tocar o projeto sem ter certeza se ele vai existir no próximo semestre, porque o dinheiro da venda de rifas não está sendo suficiente para fazer o mínimo. É brigar por mais investimento da universidade, porque buscar financiamento externo descaracteriza a essência da extensão. A universidade tem obrigação de dar esse retorno, caramba!
Extensão universitária é ação, concretização do conhecimento, quebra de barreiras, libertação, solidariedade. A extensão universitária, é resistência.
Eu e a extensão, a extensão e eu
Logo que entrei na USP, em 2013, fui apresentada ao Projeto Redigir e meus olhos já brilharam. O Projeto Redigir nasceu da vontade de alguns alunos de jornalismo de retornar alguma coisa para a sociedade, e o que eles sabiam fazer era escrever. Por isso, inicialmente, era um curso de redação para o vestibular. Com o tempo o projeto foi mudando e hoje ele é focado em ajudar a melhorar a comunicação cotidiana das pessoas, seja na forma oral ou escrita. Além disso, uma das missões do projeto é combater o preconceito linguístico.
Sempre tive vontade de fazer algum tipo de trabalho voluntário e essa história de extensão me pareceu muito importante. Fui assistir a uma aula do projeto e voltei encantada.
Eu, como bom arroz de festa que sou, cheguei na faculdade já entrando para tudo que foi entidade e grupo que aparecia. Fui representante discente, entrei para a empresa júnior, entrei para o Centro Acadêmico, me envolvi na organização da semana de recepção dos calouros e, claro, entrei para o Redigir.
Tudo era muito bom, muito legal, mas o Redigir… Ah o Redigir! Alguma coisa nesse projeto fazia eu me sentir especial. O Projeto Redigir sempre foi minha prioridade. Ele fazia eu me sentir importante, fazia eu me sentir aprendendo e eu me divertia mais nas reuniões intermináveis de domingos do que em qualquer outra dessas atividades.
Com o tempo, fui me encaixando aos poucos no Projeto, conhecendo veteranos de diferentes anos e diferentes cursos que, como eu, tinham vontade de fazer alguma coisa para derrubar os muros da universidade. Aquelas eram algumas das pessoas mais inteligentes que eu conhecia, e isso fez eu querer aprender mais também.
Como o Projeto Redigir me mudou
Mas, mais do que qualquer coisinha divertida, foram os tapas na cara que o Redigir me deu que me prenderam ainda mais a ele e me fizeram crescer como pessoa.
Eu, uma menina branca, de classe média, magra, cabelo liso, família estruturada e que estudou a vida inteira nas melhores escolas particulares da minha cidade e entrou em uma universidade extremamente elitista precisava de muitos tapas na cara para sair da bolha e realmente sentir o mundo. Ainda que eu nunca tenha me considerado uma pessoa completamente alienada, eu vivo sim dentro de uma bolha privilegiada que precisa ser constantemente furada. E foi isso que o Redigir fez.
Lembro que um dos meus primeiros pensamentos sobre o projeto foi sobre o quanto a gente poderia ajudar outras pessoas, mas com o tempo percebi que só ensina quem aprende. O Redigir me mostrou que educação deve ser um processo colaborativo e que tem um potencial libertador absurdo.
Ao longo dos meus 4 anos de Redigir eu pude ouvir histórias de pessoas com realidades completamente diferentes da minha. Conviver, conversar com elas, trocar referências e, principalmente, afeto. Eu me transformei em uma pessoa muito mais capaz de empatia.
Certa vez, uma veterana disse que o Redigir havia a transformado no que ela era. Na hora que ouvi pensei “ai, acho que forçou a barra né?”. Mas hoje afirmo a mesma coisa sem pensar duas vezes. O Projeto Redigir me transformou no que eu sou.
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