É bem possível ser feliz sozinha

É possível ser feliz sozinha sim

Eu sei. Eu já ouvi, você já ouviu, todas nós já ouvimos a canção de Tom Jobim e as infinitas outras músicas que afirmam: não é possível ser feliz sozinha. Assim como já vimos nos filmes as incontáveis mocinhas independentes e rebeldes que, afinal, precisavam, sim, de um amor, só não tinham coragem de admitir isso. Ou, em cenários já mais descarados, personagens femininas desesperadas para casar, dispostas a puxar os cabelos umas das outras na luta por um marido que não valeria o esforço nem se viesse sem necessidade de disputa, que dirá… E não vamos nos esquecer das novelas, dos seriados, dos conselhos dos parentes, dos julgamentos dos vizinhos e de tudo o mais que está ao nosso redor. Tudo indica que não é possível ser feliz sozinho. Mas, mais do que isso: que não é possível ser feliz sozinha.

De uma forma ou de várias, e mais provavelmente de várias, todas nós, diariamente, ouvimos e somos ensinadas que, sozinhas, estamos incompletas. Que precisamos encontrar por aí a nossa outra metade, que nunca estaremos realizadas de verdade se não formos o grande amor de outra pessoa e até mesmo que escolher valorizar a nossa vida profissional é resultado de um misto de egoísmo e solidão. Que levante a mão quem já se sentiu pressionada a ter alguém. Quem já teve que ouvir aquele veneninho disfarçado de elogio, que pergunta como quem não quer nada: “se tão perfeita, por que ainda solteira?”. Quem já foi incitada a continuar em um relacionamento que já não era tão bom assim porque, de certa forma, deveria agradecer por pelo menos não estar sozinha. Aliás, não levantem não, que acho que não teríamos espaço para tantos braços amontoados num post só.

O meu ponto é: talvez até mesmo você acredite que precise estar namorando para ser feliz de verdade. Como se houvesse isso de ser feliz de mentira, por sinal, e como se um amor pudesse validar ou anular todas as suas conquistas. E eu não te culpo, nem por um instante. Outro dia, e insiro uma história rotineira para que possam ver o quanto esse tipo de pressão está onde menos esperamos, ouvi uma moça descrevendo outra como “coitadinha”. Como eu raramente acredito nesse conceito de existir uma coitadinha, minha curiosidade foi atiçada e eu perguntei o por quê. E a resposta foi: depois dos 25, sem um relacionamento sério há pelo menos 2 anos e nenhum plano de casamento. A moça não estava sendo maldosa, dava para ver, ela realmente acreditava que aquela moça, que eu conheço, e nós duas sabemos bem que é formada, pós-graduada, dona do seu próprio empreendimento e uma pessoa maravilhosa, era uma coitadinha. Porque não tem um namorado. Eu não sabia se ria do absurdo do cenário, se ficava triste, ou escrevia um texto – como vocês podem imaginar, escolhi a terceira alternativa. Embora a segunda, infelizmente, não seja excludente.

Por que somos ensinados (e aqui também incluo os homens) que precisamos de um outro para nos completar? Eu acredito, de todo o meu coração, que esse é uma das maiores razões para a proliferação dos relacionamentos efêmeros. Isso porque nós somos completos. Nós somos completas e, se nos sentimos metade, ninguém jamais conseguirá preencher um espaço que deveria ser preenchido por nós mesmas. Esqueça tudo o que já aprendeu sobre egoísmo. Você deve sempre ser a pessoa mais importante na sua vida.

Sabe quando, em caso de turbulência aérea, você deve colocar primeiro a sua máscara para depois ajudar quem está ao seu redor? Então. Isso se aplica em todos os âmbitos da vida: se você não puder se ajudar (ou, mais literalmente, se não conseguir respirar), você não pode ajudar ninguém. O mesmo serve também para o amor: qualquer amor que você der enquanto não se amar sugará o seu amor próprio e te deixará sem respirar. Além disso, esse amor tende a ser infinitamente mais breve do que seria um amor dado de maneira saudável, ao invés de para suprir uma descompressurização repentina.

Outra coisa que o cinema, a TV, as músicas e as pessoas ao nosso redor querem nos fazer acreditar é que as amizades precisam terminar quando você cresce. Porque, em nossas novas vidas atribuladas, já não haverá espaço para grupos de amigos ou mesmo amigas solteiras, principalmente se estivermos comprometidas. Esse é o outro mito no qual você não precisa acreditar se não quiser. O que quero dizer é: é bem possível ser feliz sozinha, sim, mas estar solteira só quer dizer estar sozinha se você não cultivar as suas amizades. Há amigos que são para a vida toda. (Leia 10 sinais para identificar um amigo para vida toda aqui) E a duração dessa amizade depende infinitamente de vocês. E eu não digo “somente” porque, sim, a vida pode separar dois amigos, mas não é um destino escrito nas estrelas como nos dizem.

Por último, lembre-se: nós nos conhecemos como ninguém e devemos conhecer bem também o nosso próprio tempo. Precisamos parar de ouvir conselhos bem intencionados que nos colocam para baixo e nos perguntar o seguinte: “por que ter medo de ficar só comigo mesma se eu, por definição, já nasci a minha melhor companhia?”

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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