A sociedade impõem dualidades sobre a sexualidade feminina. São comuns falas e pensamentos como esses:
Mulheres não gostam de sexo como homens…
É normal não ter muita libido, né?
Às vezes, é melhor fingir o orgasmo e acabar logo com isso.
Nossa, mas no primeiro encontro? Se você não se respeitar, quem vai?
Você é virgem? Isso que é mulher pra casar!
Se você não satisfazer os desejos dele, ele vai procurar na rua.
E no episódio #5, da segunda temporada, conversei com a ginecologista e obstetra Marcela McGowan, sobre o tabu da sexualidade feminina.
A sexualidade feminina serve ao prazer masculino?
Um estudo de 2018 da Archives of Sexual Behavior revelou que as mulheres heterossexuais chegam ao orgasmo só em 65% das relações sexuais. Enquanto para os homens heterossexuais, a porcentagem salta para 95%. Curiosamente, entre as mulheres lésbicas, o número vai para 86%.
Ué? Então, não é bem sobre a anatomia feminina, certo?
Esses dados só confirmam o que já sabemos: o que aprendemos sobre sexualidade serve ao prazer masculino, não feminino. Meninas aprendem desde cedo que se dar ao respeito tem a ver com pureza e pureza, por sua vez, tem a ver com castidade.
Já os meninos são ensinados a iniciar a vida sexual o quanto antes. Até mesmo a ideia de virgindade feminina gira em torno da penetração, embora a maioria das mulheres sequer chegue ao orgasmo dessa forma…
Dualidades impostas pela sociedade.
Santas ou putas?
Virgens ou vulgares?
Precisamos desatrelar a sexualidade feminina dessas dualidades.
Nossas referências ainda são nubladas pelo moralismo, pela influência objetificante da pornografia, pelo falocentrismo e por um pavor generalizado de mulheres livres.
Os primeiros estudos feitos sobre o orgasmo masculino datam de entre 1930 e 1950.
Estudos sobre a sexualidade feminina
Estudos mais sérios sobre o orgasmo feminino vieram com Barry Komisaruk.
O neurocientista norte-americano fez o primeiro mapa cerebral do prazer feminino em 2011 graças aos seus estudos sobre a atividade neuronal antes, durante e depois do orgasmo através de uma técnica de ressonância nuclear magnética funcional, um exame médico que permite visualizar a ativação e desativação de determinadas áreas do cérebro.
O mecanismo do orgasmo feminino ainda está cercado de mistério, da mesma forma que sua função evolutiva. No homem, o clímax sempre foi interpretado como um mecanismo de recompensa (se é uma ação prazerosa será repetida o maior número possível de vezes, assegurando assim a descendência). Por que não é visto assim na mulher e se empenham em dar a ele uma função reprodutora? Muitos, entre eles Komisaruk, acham que há um propósito para o êxtase. As contrações involuntárias do útero durante o orgasmo teriam a função de ajudar o sêmen a alcançar as trompas de Falópio e realizar assim a fecundação.