Resenha do filme “O Regresso”, com DiCaprio!

☀ Mais sobre o filme “O Regresso”, indicado ao Oscar 2016 ☀

Toda vez que a lista dos indicados ao Oscar sai, eu vou logo correndo conferir os que já vi, os que quero ver e os que eu acho que nem deveriam estar ali. Dos indicados a Melhor Filme de 2016, já tinha visto “Perdido em Marte”, “A Grande Aposta” e “Spotlight”, mas só fui ver “O Regresso”, ou “The Revenant”, nesse fim de semana que passou. Nas redes sociais, já está todo mundo aguardando DiCaprio finalmente levar a estatueta para casa porque, supostamente, o filme é incrível. Ele está incrível. O roteiro é incrível. E assim fui ao cinema, esperando, ó, fireworks:

Agora, vou dar uma pausa para falar que, de fato, Leonardo DiCaprio já mereceu levar o Oscar. Ainda assim, acredito que as pessoas dão mais credibilidade ao prêmio do que ele merece. Afinal, em 2013, Jennifer Lawrence levou a estatueta por a sua participação no drama-quase-comédia-romântica Silver Linings Playbook. Concorrendo com Lawrence (que estava no auge da fama): a maravilhosa Emanuelle Riva, no devastador “Amour“, e Quvenzhané Walli, em “Beasts of the Southern Wild“, a atriz mais jovem a concorrer a categoria. Como levar tão a sério o Oscar depois disso? E eu estou só falando de uma escolha recente e muitíssimo duvidosa para o prêmio de melhor atriz, não vou nem entrar no mérito de edições mais antigas e de outras categorias, como filme, direção, ator, etc.

Voltando a “O Regresso”, adianto que saí do cinema decepcionada. Não há outra palavra. Como sempre, quando vejo um filme que era para ser incrível e saio decepcionada, saí lendo resenhas para ver se, quem sabe, eu havia deixado passar detalhes ou mesmo se o que eu considerei como defeitos impossíveis de ignorar tinham explicações ignoradas por mim. Vai saber. E, aparentemente, não. É isso aí mesmo.

IMPORTANTE: ESSA PARTE DO POST NÃO CONTÉM SPOILERS.

O Regresso, para quem não sabe, é baseado na história real de Hugh Glass, um explorador tão lendário que já virou personagem da música “The Song of Hugh Glass” (1915), do livro “Lord Grizzly” (1954) e do filme “Man in the Wilderness” (1971), além do livro que inspirou o filme, “The Revenant”, ou “O Regresso” (2002). Em “O Regresso (2015), Glass é interpretado por DiCaprio e é um caçador e guia de um grupo de vendedores de peles, em meio a uma expedição pelo Velho Oeste americano. A região, ainda quase inabitada, é disputada por índios de diversas tribos, franceses e outros exploradores.

Logo no início do filme, contudo, após um ataque da tribo dos Arikaras ao seu grupo, comandado por Andrew Henry (Domhnall Gleeson), Glass é atacado por um urso e praticamente esfolado vivo. Devido ao medo de serem atacados novamente, longe do acampamento e indefesos, os homens acabam deixando Glass para trás, depois de muito esforço do capitão para carregá-lo montanha acima. Três homens são recrutados para cuidar do enfermo e um deles assassina o filho indígena bastardo de Glass (tem isso no trailer, não comece a se descabelar) na sua frente.

 A história começa, então, quando Glass, deixado sozinho à beira da morte, decide vingar a morte do filho (Hawk) e a traição de terem-no abandonado em território inimigo para morrer. E aí, minha gente, é que surgem também os problemas. Como sou uma pessoa positiva, vou deixar para falar das coisas boas no final, pra terminar com aquele clima de “bom, pelo menos…”, sim?

O assassinato de Hawk ocorre a menos de um passo de distância de Glass. Só que ele não consegue falar, se mover, se sentar, muito menos defender o filho. Isso quer dizer que, sim, ele assiste ao filho morrer praticamente imóvel. Pois bem. Logo após ser abandonado, Glass consegue se soltar de onde está, sair da cova onde foi enterrado vivo, se arrastar até o filho e falar com ele. Ué? Como as histórias ocorrem paralelas – a dele, a dos índios, a do grupo com o capitão e a dos dois retardatários -, fica claro que essa passagem de tempo foi de, no máximo, um dia. E isso ocorre em diversos, incontáveis momentos do filme. Não estou falando de um homem que se recupera bem em uma semana. Estou falando de um homem que não consegue mover um dedo para salvar o filho sendo assassinado na sua frente porque foi atacado por um urso e nem consegue avisar ao outro companheiro sobre o que aconteceu e no dia seguinte milagrosamente está saindo da cova, se arrastando e conversando com o filho morto. Logo em seguida, inclusive, sai mancando e andando por aí.

Em meio aos comentários e resenhas sobre o filme, notei que ninguém falou sobre isso. Então, eu vou falar. Primeiro, ele não conseguia falar e nem se mover, aí, não mais que de repente, ele pode falar, se arrastar, depois mancar e sair andando por aí. Poucos dias depois, ele sobrevive montado em um cavalo a uma queda de um penhasco enorme. O cavalo morre, ele não. Inclusive, não só morre, como fica em pé e destripa o cavalo sozinho para dormir dentro dele. Sim. Então, ele acorda no dia seguinte e sai andando normalmente, para logo depois começar a correr, claro. Além disso, logo à frente, ele também sobrevive dentro de um rio cheio de pedras e quedas d’água. Em outras palavras, quase um Missão Impossível 6 – Velho Oeste. Ou um Busca Implacável starring DiCaprio.

Outro defeito incômodo é que a direção misturava o presente ao passado dele com a mãe de Hawk, e a oração que essa índia o ensinou há muitos anos atrás fica de plano de fundo, como um disco arranhado, durante muito mais momentos do filme do que o aceitável.

Um dos maiores problemas do filme, ainda, é que nenhum conflito foi abordado de verdade, nem mesmo o que se passa no interior de Glass. Em O Regresso, não conhecemos bem a sua relação com o filho, não conhecemos a história dele com a mãe de Hawk, não conhecemos a história dos brancos caçadores de peles e nem das rixas entre índios e franceses e nem mesmo entre as diferentes tribos indígenas. Todos os conflitos são pincelados, não há uma imersão em nenhum desses pontos (e nem dos outros que não falarei para não spoilar muito).

A minha cena favorita, por exemplo, é um confronto entre o cacique da tribo dos Arikaras e um comandante francês. No entanto, o clímax da cena se resume a duas falas, que tocam em um ponto sensível, mas de maneira tão rasa que parece ter faltado interesse ou coragem por parte do diretor Iñárritu de abordar o tema com a atenção que ele merecia. Não consegui deixar de pensar: “ué, mas só? lançou essa bomba por nada?”

Mais um ponto desfavorável a O Regresso: você sente o tempo passar. O filme tem mais de 2h30min e você sente cada tiquetaque do relógio. E eu sou genuinamente apaixonada por cinema, viciada mesmo, nível: ver 5 filmes em uma única semana, para mim, é normal. Já assisti a filmes de 3h, 3h30min, até mais, e nem vi o tempo passar. A Lista de Schindler, por exemplo, tem mais de 3h (197min) e parece ter 1h de filme. Foi assim que aprendi que, geralmente, se você sente cada minuto de um filme passar, ele não é um filme incrível. No máximo, pode ser um bom filme.

ATENÇÃO, O PRÓXIMO PARÁGRAFO CONTÉM DOIS SPOILERS.

Não consegui engolir ainda dois fatos. O primeiro é que, em determinado momento, o grupo acredita que Hawk está perdido na floresta à noite, após um grande ataque a um acampamento inimigo que gerou um prisioneiro. Pelo valor de $10 por homem, quase um exército decide se arriscar para resgatar o filho bastardo de Glass de quem nenhum deles nem gostava porque era meio índio. Na floresta, à noite, em território que até então era inimigo. No entanto, no dia seguinte, quando um traidor rouba todo o dinheiro do acampamento – repito: todo o dinheiro que serviria para mantê-los até o reforço chegar, já que nem barcos eles tinham mais -, somente Glass e o capitão saem do forte para recapturar um único traidor sob a luz do dia. Esse traidor havia cometido um assassinato e roubado todo o dinheiro disponível até um reforço que eles nem sabiam quando viriam. Por último, e esse é um spoiler grande, Glass não demonstra reação alguma após a morte do capitão, que era, claramente, amigo e defensor dele.

TUDO LIMPO DE NOVO. 

Não contente, o filme se prende muito em determinados momentos a um suspense completamente desnecessário. Durante a sequência final, dá para perceber (e se irritar muito com) isso.

Agora, vamos aos pontos positivos.
– A MAQUIAGEM e OS EFEITOS. O urso está perfeito e, nossa senhora, a maquiagem desse filme é de cair o queixo. Observem:

e isso nem é nada comparado ao resto do corpo

– A fotografia e a luz, sem dúvidas. O filme, inclusive, foi filmado inteiramente em luz natural, no norte gélido do Canadá. 

– A cena inicial, filmada quase toda em plano-sequência, coisa linda de se ver.

bem Game of Thrones

– Algumas atuações, inclusive a de Tom Hardy e de DiCaprio, mas acho que ele já mereceu mais o Oscar em outros filmes, como em Diamante de Sangue (2007). 

– A beleza do capitão. Tá de parabéns.

eita
limpinho
Minha nota para “O Regresso”: ☀☀☀, de ☀☀☀☀☀.

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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