O mito da beleza e a culpabilização de mulheres

Mito da beleza: o que é?

Resumidamente, o mito da beleza aborda o culto à beleza e à juventude feminina. Segundo Naomi Wolf, é uma estratégia do patriarcado para manter mulheres alienadas, exaustas e mais pobres.

Por conta dele, a qualidade “beleza” se tornou requisito universal feminino. A mulher precisa ser bonita e magra para crescer no trabalho, fisgar um bom marido e ser feliz. Claro, também precisa ser jovem. Dessa forma, nunca é cedo demais ou tarde demais para cultuar a beleza.

A ideologia da “beleza” não é uma insegurança individual que curiosamente milhões de mulheres inventaram sozinhas. É um projeto político e econômico para manipular mulheres

O mito da beleza mata

Em janeiro desse ano, a influenciadora Liliane Amorim faleceu em decorrência de uma lipo. Lidiane era magra, mas, como dezenas de outras – apostou em uma lipo na busca incansável do corpo ideal.

Ela não foi a primeira e, infelizmente, não será a última mulher a morrer em uma mesa de cirurgia estética.

Em áudio vazado, o homem que a operou diz: “ela não anda, não quer fazer nada, não quer levantar. Ela não se ajuda”.

Parece absurdo culpar a mulher nessa situação? Sim, mas é uma reação comum e eu posso provar.

Individualizar é culpar

Ideologia da beleza e pressão estética são questões políticas, sociais. Ainda assim, vemos pessoas apontando os dedos para as vítimas, individualmente.

Culpando a mulher que recorreu:

– À lipo e morreu;

– À rinoplastia e perdeu parte do nariz;

– Ao hidrogel e sofreu infecção generalizada;

– À harmonização facial e perdeu a “beleza natural”.

Nenhuma delas inventou o culto à beleza. Mas todas sofrem com ele. É importante falar em responsabilidade, sim, mas nunca esquecer que individualizar essa questão é culpar a vítima e isentar o verdadeiro culpado: o patriarcado.

Não vivemos em bolhas

A imagem que temos de nós mesmas passa também pelo olhar do outro.

Observem o paradoxo:

Se a maioria das pessoas entende que influenciadoras romantizam a lipoaspiração ao falar sobre isso… Por que tão poucas reconhecem a própria responsabilidade?

Palavras têm poder. Ainda assim, é comum:

– Elogiar com “magra“, ofender com “gorda“;

– Apontar gravidez em qualquer mulher que engordou 3kg;

– Criticar o cabelo, a pele, a barriga, o seio, a cintura, a celulite e as estrias das mulheres.

Parar de julgar mulheres pela aparência não irá acabar com o mito da beleza. Mas diminuirá a nossa responsabilidade nele.

O mito da beleza e a culpabilização de mulheres: coisas para não esquecer

1. O mito da beleza não é sobre aparência, é sobre controle. É sobre afastar (através da rivalidade feminina), empobrecer (com os infinitos investimentos estéticos e beleza/ juventude como requisitos profissionais) e alienar mulheres (sugando, entre outras coisas, tempo e confiança).

2. Vítimas são vítimas. Elas podem ser responsabilizadas por influenciar outras mulheres, mas não por caírem na ideologia da beleza. Precisamos de menos dedos apontados e mais convites à reflexão.

3. Palavras têm poder. O comentário e a piadinha, importam. Todos exercemos influência sobre outras pessoas. Se você não gostaria de ouvir algo, NÃO DIGA. Não colabora com um sistema que nos mata.

Saiba mais:

Livro – O mito da beleza, de Naomi Wolf; Leitura dirigida – “O mito da beleza”, com Manuela Xavier; Meu IGTV – Explicando: cultura da pedofilia; Minha coluna – “O mito da beleza natural”, no instagram de Dora Figueiredo; IGTV – Autoestima e beleza, de Jéssica Miranda.

Qual o pior comentário que você já ouviu sobre a sua aparência? E que coisa você já disse sobre alguém e não diria mais? Comente aqui e vamos conversar sobre!

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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