Cinco musicais que você (provavelmente) não conhece

5 musicais que você deveria conhecer

Acredito que você pode aproveitar muito mais um filme se estiver disposto a suspender a sua descrença ao ponto de não se perguntar “por que esses personagens, que nunca se viram na vida, estão fazendo um sapateado sincronizado no meio da rua?”.

Houve uma época em que musicais dominavam boa parte do mercado cinematográfico, algo que começou desde o instante em que filmes com som foram inventados. Mas em algum momento por volta da década de 90, eles praticamente desapareceram, e filmes com trechos musicais passaram a ser uma marca registrada quase que exclusiva dos desenhos da Disney. Até que “Moulin Rouge” resolveu correr o risco, reavivou o interesse do mundo, e os filmes de musicais voltaram a ter alguma frequência no mercado.

Eu poderia te passar os clássicos, como “Cantando na Chuva”, “Mary Poppins”, “A Noviça Rebelde”, “O Mágico de Oz”, e também podia falar de alguns dos mais famosos dessa nova era de filmes musicais, como “Across the Universe”, “Sweeney Todd”, “Chicago”, e a mais recente adaptação de “Os Miseravéis”. E você realmente devia ver todos esses se ainda não viu, mas todos eles já são razoavelmente conhecidos. Então, aqui estão alguns com um status um pouco menor (pelo menos nos dias de hoje) que eu acho que também merecem a sua atenção:

A Pequena Loja dos Horrores – Frank Oz

Em uma corrente de adaptações que chega a dar inveja, “A Pequena Loja dos Horrores” (Little Shop of Horrors) era originalmente um filme de terror/comédia de baixo orçamento de 1960 (e um dos primeiros filmes que Jack Nicholson fez, se você gosta de pesquisar essas coisas), supostamente baseado em um conto de John Collier de 1932. Ele alcançou um status cult depois de um tempo, e em 1982 foi adaptado para um musical da Broadway. Então, em 1986, esse musical foi adaptado para uma nova versão cinematográfica, com Rick Moranis, Steve Martin, entre outros.

A história é sobre um empregado franzino e acanhado em uma floricultura, que começa a cuidar de uma planta que se alimenta de sangue humano. Algumas das músicas são extremamente boas (minha preferida é a de Steve Martin, sobre os prazeres de ser um dentista sádico), e o filme tem uma personalidade muito marcante, ainda mais por ser um dos poucos musicais que abrangem esse gênero terror/comédia. E como um bônus para te dar um motivo para assistir a esse filme, há boatos circulando de um remake com Joseph Gordon-Levitt, então seria bom conhecer o original para poder comparar.

Jesus Christ Superstar – Norman Jewison / Gale Edwards

Hoje em dia, todos conhecem Andrew Lloyd Webber por ter feito o musical “O Fantasma da Ópera”. Alguns um pouco mais inteirados no assunto conhecem “Cats”. Pessoas completamente obcecadas vão te recomendar “Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat” (é interessante, mas com um nível de cafonice absurdo, só recomendo se você realmente não se importa com isso). Mas entre o completamente conhecido e o completamente obscuro, existe “Jesus Christ Superstar”, uma interpretação dos últimos dias da vida de Jesus Cristo contada pelo ponto de vista de Judas, e na minha opinião a melhor coisa que Webber já fez.

Além das músicas muito boas, e de uma estética que mistura cenários apropriados para a época em que a história deveria se passar com figurinos e outros elementos mais situados no movimento hippie no século XX, o mais interessante é como o musical apresenta uma certa ambiguidade. Em nenhum momento Judas é retratado como o vilão, e Jesus também não possui uma presença “divina”, e em vez disso é apenas apresentado como um líder social, que tem suas opiniões interpretadas livremente pelo público. Há todo um desenvolvimento interessante dessas áreas cinzentas, que o musical faz muito melhor do que eu poderia escrever aqui. Existe mais de uma versão filmada, a mais conhecida sendo de 1973 e dirigida por Norman Jewison, mas também recomendo a versão de 2000 por Gale Edwards. Cada uma delas possui uma interpretação de Judas bem diferente, tanto em estilo vocal quanto em performance, mas ambas são muito interessantes.

Oliver! – Carol Reed

Esse na verdade ganhou vários prêmios quando foi lançado, incluindo o Oscar de melhor filme de 1969, mas desde então caiu no esquecimento. Adaptado de “Oliver Twist” de Charles Dickens para a Broadway por Lionel Bart, a versão para cinema foi dirigida por Carol Reed.

É da era de ouro de musicais de Hollywood, quando eles já estavam com um estilo mais estabelecido. E algumas de suas músicas foram integradas pela cultura geral, com a principal sendo “Food, Glorious Food”, que foi apropriada por Carlos Saldanha para uma cena em “A Era do Gelo 2”.

https://www.youtube.com/watch?v=cw_ETnxuBys

Hair – Miloš Forman

Com raízes profundas no movimento hippie, “Hair” é um drama/comédia de 1979, adaptado do musical da Broadway de 1968, e acompanha um jovem convocado para a guerra do Vietnã, que conhece um grupo de hippies em Nova York, e acaba sendo integrado ao grupo. Eu não sei o que é mais triste: a realidade dos milhares de jovens que foram arrastados para a guerra retratada no filme, ou o fato de que elementos da vida dos personagens de um filme com mais de 45 anos de idade ainda são vistos com maus olhos por conservadores até hoje. Mas enfim, eu garanto que pelo menos a música “Aquarius” ficou famosa o suficiente ao ponto de você conhecer, mesmo que nunca tenha assistido o resto.

Doctor Horrible’s Sing-Along Blog – Joss Whedon

Ok, antes de mais nada, uma pequena contextualizada histórica:

No final de 2007 e começo de 2008, ocorreu nos EUA uma greve geral do sindicato de roteiristas, que abrangia cinema, televisão e rádio. Joss Whedon, na época já conhecido por ter feito as séries de TV “Buffy”, “Firefly” e uma série de quadrinhos dos X-Men, resolveu se juntar aos seus irmãos, chamar alguns amigos do ramo, e filmar algo independente, que pudesse ser lançado na internet.

Com Neil Patrick Harris, Felicia Day, Nathan Fillion, e um Simon Helberg que ainda estava começando a ficar famoso como Howard Wolowitz em “The Big Bang Theory”, “Doctor Horrible” é a história de um supervilão que se apaixona por uma garota simples que frequenta a mesma lavanderia que ele, e tenta se aproxima dela, lutando contra as convenções de uma história típica de super-herói.

Depois que foi lançado, Joss Whedon teve seu status cult elevado ainda mais, e quando chegou a hora dos estúdios Marvel procurarem um diretor para o filme dos Vingadores, ele foi escolhido. Depois, foi encarregado da série de TV spin-off, “Agentes da S.H.I.E.L.D.”, e agora, de “Vingadores 2: A Era de Ultron”.

Então, “Doctor Horrible’s Sing-Along Blog” de certa forma afeta todo o cenário de Blockbusters atual. Se não fosse por esse filme, Joss Whedon talvez nunca tivesse dirigido “Os Vingadores”. E não dá pra saber se o impacto dessa produção da Marvel teria sido tão grande a ponto de moldar todo o mercado de filmes de super-heróis como acabou moldando. E como ele foi feito para distribuição online, nada te impede de ir ver imediatamente.

Foto: Charmaine de Heij 

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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