13 motivos para NÃO amar morar em São Paulo!

Como, a essa altura do campeonato, vocês já sabem, eu não nasci em São Paulo. Sou nordestina e vim morar aqui há cinco anos, sempre me cercando de outros forasteiros. Essa lista com 13 motivos para não amar morar em São Paulo, portanto, é resultado da mistura de vários pontos de vistas de residentes nem tão recém-chegados à cidade. Não é um ultimato, não foi feita a ferro e fogo. É mais um compilado das minhas experiências com as diversas conversas que tive nos últimos anos por aqui com pessoas do país inteiro.

Antes que alguém me pergunte: sim, gente, eu amo morar em São Paulo. E, inclusive, já fiz uma lista aqui com 17 motivos para amar morar em São Paulo, do mesmo jeitinho: mix de conversas com amigos, amigos de amigos e das minhas próprias descobertas. Por causa desse primeiro post, recebi vários e-mails de pessoas de outros estados que estavam de mudança e que queriam saber um pouco mais da minha experiência e, é claro, do lado ruim ou, ao menos, do lado não tão bom de morar em São Paulo.

Espero que cês gostem, que se identifiquem e que deixem seus pitacos e perguntas lá embaixo nos comentários.

1. O trânsito

Foto: Zé Carlos Barretta.

Nenhum noticiário, textão no Facebook ou reclamação de bar jamais conseguirá descrever como o trânsito de São Paulo é de sugar a alma e a alegria de viver. Uma vez levei 3h do meu antigo trabalho até a USP, numa distância de 8,5km. 2h levei várias vezes. Houve situações em que simplesmente desci e decidi andar 6km até em casa, em meio às ladeiras que parecem montanhas da Vila Madalena, mesmo sem saber direito o caminho e com medo de ser assaltada. O trânsito de SP é isso. Me vem sempre a questão: ir sozinha à noite sob o risco de me perder ou perder 2h da minha vida neste ônibus? Mais amor metrô, por favor, é só o que peço.

2. As distâncias

– Onde vai ser o show?” R: “No Citibank Hall. Afe.”

São Paulo é grande demais. Isso pode ser um ponto positivo, pela variedade de opções, mas também pode ser bem chato. É muito rara aquela coisa fofa de ir andando até a casa dos amigos ou mesmo de dizer “tô indo” saindo de casa e não chegar 1h depois. Isso acaba te limitando bastante, já que você vê algo legal acontecendo na cidade, joga no mapa e está a 15km de você. Blé. 

3. Os preços

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Desista dos frutos do mar, dos rodízios de carne e das sorveterias baratinhas, aqui os preços são de chorar. Uma bolinha de sorvete, R$11. Um prato individual de massa com camarão, R$90. Um rodízio de carnes, R$120. Claro que tem a ver com a região onde moro e que há exceções, mas para quem veio de um lugar onde uma boa moqueca de camarão e ostra para 3 pessoas custa R$90… Ai. E aqui ainda há outra coisa chatona: um novo restaurante abre e é um achado: preço bem bom, boa localização, tudo belezinha. Se fizer sucesso, pode esperar: 4 meses depois já estará cobrando 20% a mais, 8 meses depois, 40%… Até ser só mais um restaurante caro. Vi esse fenômeno acontecer infinitas vezes desde que vim morar em São Paulo.

4. “Cada um por si”

Foto: Gustavo Gomes.

Já tô até ouvindo: “mas não é todo mundo”. Sim, não é todo mundo, mas ainda assim é muita gente. Aqui em São Paulo eu sempre me impressiono com a cultura de *é cada um por si*. Talvez eu seja sensível demais, ok, mas continuo achando meio triste. Já vi pessoas perdidas e ninguém parando para ajudar, gente que derrubou coisas no chão e ninguém nem diminuiu o passo, gente dormindo na última estação do metrô sem receber um aviso, amigos que têm carro e não dão carona nem pro metrô no final do rolê à noite, senhorinhas em pé enquanto mil jovens fingem dormir no ônibus e no metrô. Enfim, a sensação de frieza e de indiferença é geral. A minha gentileza eu garanto e não espero de verdade nada em troca, mas queria muito que fosse mais generalizada. Já até escrevi sobre gentilezas do dia a dia aqui.

5. Não tem praia

Foto: Naira Mattia.

É.

6. O verão (inclusive os que vêm fora de época)

Foto: Klaus Jessen.

O verão de São Paulo é o treinamento do inferno na Terra, tenho certeza. Não há praias, não há vento, mas há temperaturas de mais de 30 graus quase todos os dias e ainda TEMPESTADES à tarde. Na boa. Calor de matar até umas 15h, depois chuva de fazer enchente até a noite. Sabe quando o carro fica no Sol durante horas, você entra e fecha as portas? É essa a sensação, só que do lado de fora. Ou, o que já é um pouco melhor (mas ainda um saco se você não estiver dentro de casa), um dia inteiro de chuva.

7. O preconceito velado

cês me desculpem o trocadilho

Sempre recebo e-mails perguntando isso: e existe preconceito? A resposta é: sim, mas é um preconceito geralmente disfarçado. Igualmente irritante, só que menos perigoso, ainda bem. Um tal de falar “nordestino é isso ou aquilo, mas você é diferente” ou “acho seu sotaque tão engraçado porque aqui em São Paulo não temos sotaque“, “ouvi dizer que mulher nordestina é fogosa, é verdade?”, etc. Andei pensando em fazer um post sobre isso – as coisas que já ouvi aqui em SP -, cês leriam?

8. O bairrismo

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Outro tópico que daria um texto inteiro. O bairrismo de SP está em todos os âmbitos da organização social. Está nos moradores de um bairro que fizeram um abaixo assinado para tirar a exposição de um museu porque ela estava “atraindo muita gente”, “criando muvuca” na região. Está nos moradores de outro que lutaram pra NÃO ter um metrô no bairro porque iria atrair muita *gente diferenciada*. Está nos moradores de outra região que ficaram possessos com a abertura da Avenida para lazer aos domingos. Está no chororô dos motoristas contra as faixas de ônibus e contra as ciclovias. E está nos incontáveis paulistas que acham que “tudo acima de Minas Gerais é Bahia“. Sim, eu já ouvi isso. “Ah, mas é tudo a mesma coisa”. 

9. A concentração de renda

Foto: Carta Capital. A Favela Real Parque x o bairro nobre Real Parque.

Vizinha do bairro nobre Real Parque no Morumbi, a favela Real Parque. Em plena Rua Oscar Freire, várias famílias de moradores de rua. Ao lado do Higienópolis, um dos bairros mais ricos de São Paulo, a Cracolândia. E por aí vai. A diferença gritante entre o rico e o pobre permeia a cidade e é triste de se ver.

10. Os taxistas péssimos

Imagem: Shelley Savor.

Taxistas péssimos não são exclusividade daqui, mas é impossível não citar a categoria como um dos motivos para não amar morar em São Paulo. Especialmente para quem vem de fora: prepare-se para trajetos longos em curtíssimas distâncias, espertezas sem fim e a desculpa de “não ter troco”. Quando ouvem um sotaque diferente, os taxistas paulistanos quase sempre te tomam por trouxa e decidem dar voltas infinitas para chegar ao destino. Recomendo usar o Waze. Ou o Uber. Se cês tiverem histórias com taxistas péssimos, contem abaixo nos comentários! ?

11. O governo

Aham.

Não vim aqui discutir política, mas o que dizer de um governo estadual que sabia com uma antecedência de mais de uma década que viria a seca e deixou que ela assolasse a cidade mesmo assim? Ou de um governo que promete novas linhas e estações de metrô há tanto tempo que a construção de algumas delas, como as da Linha 4, já duram quase 12 anos? Gente, pensem bem, esses metrôs já deveriam estar no Ensino Fundamental 2! Só de pensar tenho raiva.

12. O cosmopolismo (e a ausência de identidade)

Outro tópico que também já citei como um dos motivos para amar morar em São Paulo, mas que tem seu lado ruim. Isso porque, entre tantas culturas, entre tantos bairros e em meio a tanta diversidade, parece que São Paulo não tem identidade. Não tem rituais, raízes, tradições, culinária típica, nada que seja genuinamente daqui. É uma mistura das identidades de vários povos imigrantes, mas sem assumir nenhuma como a cultura paulistana. O drama das grandes metrópoles desse mundo globalizado, né.

13. Trabalho, trabalho, trabalho 24/7

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Muitos dos paulistanos que conheço e que as pessoas que eu conheço conhecem vivem para trabalhar. É um sistema que eu acho insano: ser pago para trabalhar 8h e trabalhar 16h, falar só sobre trabalho na hora do almoço e aos fins de semana, levar trabalho pra casa todos os dias, pensar em trabalho da hora que acorda até a hora de dormir, não ter tempo pra nada porque está saindo do trabalho 4h mais tarde do que deveria. Cruz credo. Não me levem a mal, eu gosto muito de dinheiro, mas eu não acho que compensa trabalhar sem fim para não sobrar tempo pra mim. Até rimou. Fim.

Foto principal: Naira Mattia. 

Se você se interessou por esse post, acredito que vai gostar da playlist “morar em SP” do meu canal. Reuni coisas que todo mundo deveria saber antes de vir morar em São Paulo, conselhos que eu e outros não-paulistanos gostaríamos de ter ouvido antes de mudar pra cá, dicas de uma nordestina em SP, etc e tal. Clique abaixo e aproveite pra se inscrever, sim? 


Psiu, leia também os 17 motivos para amar morar em São Paulo!

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clara-fagundes-pesquisadora-do-futuro.jpg

27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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