Review de “La La Land – Cantando Estações”
Janeiro nem terminou, mas eu já posso dizer de coração aberto que “La La Land” terminará 2017 como um dos melhores filmes do ano, se não o melhor. Grande vencedor do Globo de Ouro, levou nada menos do que 7 prêmios, incluindo “Melhor Ator”, “Melhor Atriz”, “Melhor Diretor” e “Melhor Filme”. Com direção e roteiro de Damien Chazelle, de “Whiplash”, figurino de Mary Zophres (de “O Grande Lebowski”) e trilha sonora de Justin Hurwitz (também de “Whiplash”), “La La Land” não é só o melhor musical da década, como foi uma das melhores experiências cinematográficas da minha vida.
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NÃO HÁ SPOILERS AQUI!
A primeira coisa a se falar sobre “La La Land” é que ele é um filme sobre o amor. A segunda é que é uma clara homenagem aos musicais clássicos, como Les Demoiselles de Rochefort (1967), Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), Grease (1978), O balão vermelho (1956), West Side Story (1961), Sweet Charity (1969), Cantando na Chuva (1952), Shall We Dance (1937), Moulin Rouge (2001) e Cinderela em Paris (1951), alguns dos meus filmes favoritos da vida. O enredo é dividido em estações que, com o tempo, você descobre que pouco têm a ver com o clima. A primeira cena, que se passa no inverno, é um prato cheio para quem é apaixonado pelo gênero. Pessoas em carros coloridos presas no tráfego de Los Angeles saem do tédio cantando a esperança e a alegria de mais um dia de Sol. É aí que Sebastian e Mia, os protagonistas, se encontram pela primeira vez. Mia ensaia sozinha as falas para (mais) um teste de elenco e não presta atenção aos carros que começam a se mover. Seb a ultrapassa, irritado.
O inverno vira primavera, a primavera traz o verão, e acompanhamos a relação entre os dois se transformar em uma história de amor.
Sebastian Wilder, interpretado por Ryan Gosling, é um pianista frustrado e apaixonado por jazz que sonha em abrir a própria casa de shows. Já Emma Stone, na melhor interpretação da sua carreira, dá vida a Mia Dolan, mais uma aspirante a atriz tentando a vida em L.A. A história dos dois e o roteiro do filme, em teoria, não precisam de explicação: seus sentimentos são universais. Amor, sonhos, esperança, paixão, nostalgia. O grande trunfo de “La La Land” é que esses sentimentos, embora quase clichês, conseguem despertar a beleza do inesperado e encher os olhos – e o coração – de poesia.
As primeiras cenas coloridas e completamente eufóricas do filme vão se transformando, antes que você se dê conta, em uma bela melancolia romântica. Quase não há personagens coadjuvantes: o filme gira ao redor do casal… E da música, que se transforma também em uma protagonista. É por essa razão que a obra tem o poder de encantar os que não são fãs de musicais: não há nada desconexo. A música está atrelada à história como um personagem e não parece um “extra”. A trilha de Hurwitz é de tal forma coerente que as músicas fluem perfeitamente entre as estações do amor dos dois, os diálogos e as coisas que não foram ditas. Mais do que isso: as melodias convergem entre si de maneira a criar uma peça musical única, fato que é percebido com facilidade ao ouvir toda a trilha em ordem como um álbum.
CUIDADO! OS TRÊS PRÓXIMOS PARÁGRAFOS CONTÊM SPOILERS!
“La La Land” segue como um sonho por quase toda a primeira metade do filme e só começa a dar sinais de novos ventos quando chega o outono. Assim como as folhas caem e perdem a cor nessa estação, o filme vai ganhando outro tom. Nenhum outro número como o da primeira cena irá acontecer e eles também não vão mais dançar pelo céu como no verão. Pelo contrário, os dois parecem cada vez mais presos ao chão e ao peso das suas próprias escolhas. Em uma das minhas cenas favoritas – de “La La Land” e, bem, do cinema -, vemos Seb aparecer em uma grande cena para surpreender Mia. No entanto, ao contrário do esperado e de todos os filmes água com açúcar, a grande cena não resolve nada. Inclusive, apenas evidencia as coisas não-resolvidas. Como, convenhamos, aconteceria na vida real. E é aí que a melancolia do outono, das novas cores e da reviravolta do roteiro começa a se manifestar: para onde as nossas escolhas nos levaram? Para onde levaram Seb e Mia?
Num diálogo de embrulhar o estômago, Sebastian informa a Mia que o tour da banda de que faz parte, mas da qual não gosta, irá durar muito mais tempo do que o esperado. Ela, que está se preparando para a sua primeira peça autoral, informa a ele que, não, não pode acompanhá-lo, pois tem a própria vida. Seb, nós sabemos, aceitou o emprego porque achou que era o que Mia queria, Mia tomou coragem de escrever a peça porque Seb a incentivou. E, assim, cada um, fazendo o que acreditava ser melhor para o outro, deu um passo a mais em direção ao fim. O caminho que se traça a seguir é de vitória para os dois, mas não dos dois como um casal, como um lembrete realista de que, em geral, não se pode ter tudo.
Nos últimos trinta minutos, o filme se torna praticamente irreconhecível. Chazelle vira o roteiro ao avesso e é impossível saber que caminho irá seguir. Cinco anos passaram e cada um deles conquistou sonhos e viveu uma vida diferente – embora igual – ao que tinham sonhado. Ela, em Paris, ele, em L.A. Após cruzarem o olhar depois de tanto tempo, acompanhamos um mini-vídeo de tudo o que teria sido da vida que não foi. Podemos assistir de primeira mão como teria sido o filme se “La La Land” fosse mais um romance clássico, como a fotografia e a edição de arte sugeriam desde o início. E, então, o filme nos deixa dar uma espiada pela fresta da porta do final feliz que queríamos que tivesse, sem, de fato, nos entregá-lo. O gostinho que fica na boca é agridoce: embora tenham conseguido o que queriam, isso significou deixar de fora um da vida do outro.
PRONTINHO! OS SPOILERS ACABARAM!
Em todos os sentidos, “La La Land” é um filme lindo. Visualmente, destacam-se o figurino sempre impecável de Zophres, a fotografia com jeitão retrô, os bem escolhidos efeitos especiais e a edição de arte que dá ao filme uma atmosfera de sonho. O roteiro poético é envolvido em um abraço quentinho pela trilha sonora perfeita. Tudo isso bem casado a um elenco em um grande momento, um diretor corajoso e tradicional, ao mesmo tempo, e referências que são um prato cheio para os fãs do gênero. Uma curiosidade é que Ryan Gosling aprendeu a tocar piano para viver Seb, e isso dá ainda mais charme à sua atuação e ao seu personagem.
Um dos maiores méritos do filme é surpreender e fazer questionar: qual a influência das pessoas que amamos nas decisões que fazemos ao longo da vida? Quais dessas escolhas nos afastam do outro? Quais nos aproximam dos nossos sonhos? É impossível sair de “La La Land” sem revisitar todos os “e ses”, todas as possibilidades e todas as pessoas que deixamos pelo caminho. Outro, é ser quase um cartão postal audiovisual de L.A.: acabamos nos apaixonando pela cidade à medida em que Mia se apaixona por jazz, guiada por Seb. É difícil não cair de amores pelo jazz também, mas confesso que sou suspeita porque sempre amei.
Assim que saí da sala de cinema, ainda em prantos e acompanhada do meu melhor amigo (também em prantos), escrevi assim:
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E não poderia descrever melhor a sensação que “La La Land” deixou, mesmo com a ajuda de quase 1200 caracteres a mais.
E aí, quem já viu “La La Land”? Gostou? Quem não viu, ficou com vontade de ver?
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