Independência financeira com Bruna Tavares

Numa sociedade patriarcal e machista, as mulheres são incentivadas a desejar um poder que não é financeiro. Clara conversa com Bruna Tavares sobre ambição, dinheiro e independência financeira.


Dinheiro não compra felicidade, mas compra acessos.

Saúde, educação, cultura, conforto, independência.

Não é por acaso que, numa sociedade patriarcal e machista, as mulheres ganhem menos no mundo todo e sejam incentivadas a desejar um poder que não é financeiro.

Por trás de todo grande homem, há uma mulher.

Ah, ela é a rainha do lar.

Em casa, ela manda e desmanda.

Esse é um poder que não abre portas em um mundo capitalista e nem garante liberdade de ir e vir para mulheres. É um “poder” que, na verdade, toma o seu tempo e as afasta da emancipação financeira e afetiva.

Assim, elas aprendem desde cedo a não ser tão ambiciosas. Devem ser gratas pelo que têm e nunca querer, exigir demais. Isso não é nada feminino. O machismo, a falta de representatividade, o gap de autoridade entre homens e mulheres e a raiva que as pessoas têm do sucesso feminino (algo que pode ser tema de outro episódio) nos incentivam a abafar os seres desejantes que somos.

Os seres que desejam conquistar o mundo – e não um homem.

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Como em toda norma, as que se libertam vão ocupando espaços e abrindo caminhos para que outras. As que se atrevam a desejar, sonhar alto, muito e sempre mais, inspiram outras a fazerem o mesmo.

Eu sou Clara Fagundes, futurologista, comunicóloga, e esse é o meu podcast Olá, bruxas.

 

#9 Independência financeira

Clara Fagundes – De uma mulher bem ambiciosa para outra, converso com Bruna Tavares sobre ambição, dinheiro e independência financeira.

Independência financeira, com Bruna Tavares
Bruna Tavares, convidada do Olá, Bruxas para o episódio #9 Independência financeira


Clara – Bruna, muito obrigada por estar aqui. Seja muito bem-vinda ao Olá, Bruxas!

Bruna – Ai, que honra! Tô muito feliz de estar no podcast com você, que acompanho tanto, leio tudo! Clara, você arrasa muito, é uma honra estar no meio de tantas mulheres maravilhosas que você convidou. 

Clara – Muito obrigada, você é uma inspiração! Antes de tudo vamos falar sobre a Temporada. Essa segunda Temporada [do Olá, Bruxas] toda é sobre questões da socialização feminina, ou seja: As coisas que a gente precisa desaprender para criar futuros mais feministas. Assim que eu decidir que essa ia ser a linha editorial, eu sabia que ia ter que falar sobre dinheiro, né? Porque as conquistas dos homens são do mundo, e as das mulheres são individuais. Já falei aqui no podcast sobre isso. O homem é para ter o sucesso da profissão, sucesso financeiro, sucesso de ganhar o mundo mesmo. E a mulher tem aquela conquista que é do casamento, é da magreza, da beleza, da juventude. As mulheres não são incentivadas a serem ambiciosas, a desejarem muitas coisas fora do universo da beleza, daí tem aquele desejo da cirurgia plástica, do produto novo. E sobre como essas essas coisas, esse desejos que a gente é incentivada a ter, não mudam a nossa realidade e não nos garantem poder. Porque uma mulher que quer poder, que é ambiciosa, costuma ser até mal vista por isso. 

Clara – Então eu queria começar com essa pergunta: Bruna, você se considera ambiciosa?

Bruna – Me considero, com certeza. Eu acho que sempre tive essa ambição de vencer na vida, digamos assim, e sempre tive muita ambição de independência. Tem até uma foto minha que é um ícone, e o meu marido ama essa foto, porque eu tô eu com o vestido de noiva com uma cara de tédio assim porque eu nunca quis casar, nunca foi uma vontade minha, eu nem gostava assim desse tipo de coisa eu queria me vestir de outra forma, mais assim mais “moleque” mesmo, sempre fui dessa pegada. Eu sempre tive isso dentro de mim, desde pequena a minha mãe sempre me incentivou a isso, ela sempre foi uma mulher muito independente e muito além do casamento, o casamento era só uma coisa da vida dela. Acho que não tem nenhum problema você querer as duas coisas, mas as mulheres têm que ter essa independência de vida mesmo. Então eu nasci nesse contexto de mulheres muito fortes, que sempre trabalharam fora, que sempre fizeram tudo. Demorei até pra entender o conceito do machismo, porque eu pensava “gente, minha mãe comanda, minha tia comanda”, eu tinha uma vida dentro da minha casa e da minha família totalmente de mulheres que trabalham desde sempre, então eu sempre quis essa independência financeira. Pelo contexto familiar de ter mulheres fortes que me incentivavam e que são inspirações para mim, e muito pela escassez também que eu já vivi, momentos de escassez muito difíceis de ver as pessoas que eu mais amo serem humilhadas por causa de dinheiro, de ver as pessoas que eu mais amo serem praticamente despejadas, a gente fica até [emocionada]… Então eu cresci com uma vontade gigante de vencer e de cuidar dos meus pais, sabe? Eu falei “eu vou tirar meu pai do trabalho dele, eu vou tirar minha mãe do trabalho dela, e eles vão ficar na vida boa que ele merecem”. Eles são muito dinâmicos, nem entendem muito essa aposentadoria entre aspas que eu dei pra eles, mas eu queria muito, canceriana né, que fala? presos]. Eu queria muito poder fazer isso, a família sempre em primeiro lugar, para dar para minha família o que eles mereciam ter e não conseguiram mesmo trabalhando muito. Meu pai trabalha desde os 13 anos de idade, o que é um absurdo até, e a minha mãe também por aí. Isso me deu uma vontade gigante de falar “eu vou mudar esse ciclo”. E aqui estou.

Clara – Que maravilhosa, é muito bonito isso. Eu me identifico bastante, também nunca tive o sonho do casamento, era muito mais um sonho de independência, inclusive financeira, e com certeza teve muito a ver com a minha criação também. Eu já falei aqui 500 vezes que a minha família é de mulheres brabas. Já na vida adulta, fui percebendo que eu sou um ser desejante. Eu desejo muitas coisas, e é algo que muitas mulheres levam bastante tempo para se permitir ser. Para sonhar alto, desejar muito, querer mais. Porque a gente é educada para ser boazinha, para aceitar tudo, para desejar o poder mais no âmbito do lar.

Bruna – A minha mãe tem uma frase que é maravilhosa, que ela fala sempre quando ela tá com as minhas amigas. Tenho muitas amigas que são mulheres de negócios também, e ela fala “mulheres boazinhas não enriquecem”. Claro que eu sou boazinha tá, gente [risos], mas ela fala isso no sentido de “Bruna, vai para cima”, sabe? “Vai para cima, você é a melhor”, coloca a gente para cima. Minha mãe é muito sincera. Ao mesmo tempo que ela coloca para cima, ela também fala “tá ruim isso aqui Bruna, dá pra melhorar”. Ela é bem critica, mas com certeza esse contexto [de incentivo] faz toda a diferença no que eu sou hoje.

Clara – Eu vejo que a sua mãe super te inspirou a desejar coisas. E quem te inspirou a ser empreendedora? Quais foram as suas referências? 

Bruna – Acho que a parte de empreendedorismo sempre veio desse meu desejo de encontrar o meu caminho. Sempre tive essa vontade muito grande de ser independente, e isso tem muito a ver com a minha emancipação financeira. Porque eu sempre quis muito trabalhar, ter o meu dinheiro, fazer minhas coisas. Eu não queria dar trabalho para os meus pais, eu acho que de certa forma eu fui a minha própria inspiração, eu não tive alguma coisa específica. O meu pai é empresário também, então eu acho que isso também tá linkado, mas foi uma coisa muito minha. Eu sou formada em Jornalismo, e durante a faculdade tinha que trabalhar e estudar. Acho que quem trabalha e estuda sabe que o contexto é totalmente diferente, a gente não consegue fazer os estágio mais incríveis, as viagens mais incríveis, os intercâmbios mais incríveis. Eu lidava com os colegas meus que tinham esse contexto de intercâmbio, eu falei “gente, eu tô muito para trás, como é que eu vou fazer quando eu me formar?”. E eu ainda engravidei durante a faculdade, que foi um outro rolê – aí, sim, quando eu descobri o machismo. Porque até então eu era muito blindada porque com minha família, com meu namorado que é meu marido hoje, mas também um cara super com outra cabeça, pra frente Graças a Deus, senão nem tava comigo também, não sou obrigada né? [risos]. Engravidei em todo esse contexto, e quando eu me formei eu quis desenvolver meu blog. O blog foi a primeira coisa, meu primeiro negócio. Eu sempre falo que “empreendedorismo” é uma palavra gigante né um monte de letrinha para falar, a gente até enrosca, mas é um passo, é você aplicar uma ideia sua. Não precisa ser um super investimento, não precisa ser uma super coisa. Meu primeiro blog na faculdade não foi nem de beleza, foi de Economia, e acho que isso também impacta muito no que sou hoje. Eu queria mostrar que eu tinha capacidade, eu não tinha aquele currículo, eu não tinha nenhum intercâmbio, eu nunca tinha saído de Campinas sequer, eu não tinha os estágios incríveis. Mas eu sabia como fazer, então se eu mostrasse que eu sabia como escrever sobre moda, sobre beleza, eu ia conseguir meu espaço. Então eu quis desenvolver meu portfólio, foi aí que eu investi o meu primeiro dinheiro para criar uma coisa minha só minha. Eu não me inspirei em específico. Lógico, tinha uns blogs que eu seguia, que eu gostava, mas eu tava com essa visão, com esse mindset, de desenvolver portfólio e conseguir emprego, não necessariamente ter o blog ali. Tanto que nem tinha essa coisa de receber presskit, era uma coisa muito ainda raiz. E deu certo! Em seis meses eu fui notada pelo UOL, e depois fui pra editora Abril e desenvolvi minha carreira de jornalista, que juntou com a minha carreira de blogueira, e tudo foi acontecendo.

Clara – Como a criadora de conteúdo e jornalista virou empresária? Qual foi esse esse pontinho de virada? 

Bruna – Foram muitas coisas acontecendo. No meio do processo em 2009 eu criei o blog, em 2011 eu já tava fazendo algumas publis, tava começando esse movimento. Ter sido uma das primeiras, ter sido pioneira, com certeza fez com que eu fosse uma das primeiras a ter assessoria, a fechar publi. Em 2011 eu recebi um convite da Farmaervas. A Tracta, a marca deles de maquiagem que existe até hoje, chamou eu e algumas influenciadores (nem usava esse termo na época, era só “blogueira” mesmo) para fazer um batom. Eu entrei nos 45 segundo tempo, teve uma desistência por contrato e eu entrei, não era nem tanto pelo blog, mas porque eu já tinha uma carreira de jornalista, tinha contato com a assessoria. Aí linkou né, fui chamada, o blog já tinha acesso diário, já tinha uma turma ali, mas não era uma coisa que tava assim super gigante como algumas pessoas que fizeram o batom comigo. Entrei nesse projeto e, como eu sempre faço tudo na minha vida, eu agarro as oportunidades mesmo, porque oportunidade é uma coisa que pode ser única na sua vida. De uma oportunidade, você pode multiplicar ela por outras, e foi o que eu fiz. Eu desenvolvi esse batom, lembro que eu escolhi uma cor que não tinha ainda no mercado. É incrível falar sobre isso, porque hoje em dia tem qualquer cor né, mas em 2011 não tinha muitas opções, era mais o básico, o neutro, o cor de boca, o vermelho, o vinho. Eu quis desenvolver um coral neon, uma coisa que não tinha, tanto que no dia eu fiquei muito insegura, porque eu vi que a galera tinha trazido uma referências de importado, e eu não trouxe, eu trouxe uma referência de algo que era tipo um sushi. Lembro que as químicas, engenheiras, super adoraram o desafio, todo mundo gosta de um desafio e essa sou eu até hoje num laboratório: O desafio. Fui a primeira a começar o batom e a última terminar. Peguei um ônibus lá na rodoviária de São Paulo para Campinas insegura, pensando “por quê eu fiz isso?”, “quem que vai usar esse batom?”, já naquela coisa da síndrome da impostora que bomba mesmo né, até hoje… E ai minha mãe, que é apaixonada por maquiagem, estava muito curiosa e pegou o batom na hora, ela passou na boca e ficou bem lindo, até mais bonito nela do que em mim. Porque eu acho que tem que segurar né, minha mãe sempre segurou muito, ela sempre usou batom vermelho na época que ninguém usava batom vermelho e era aquele tabu. Ela falou “que lindo, Bruna, não tem nenhum batom parecido com esse, já vou ficar para mim, tá bom?”. Aquilo me deu uma segurança, eu pensei “acho que o ponto é esse: A pessoa pode ter vários batons, mas essa cor ela não vai ter, aí que eu vou trabalhar no marketing”, daí eu mesma fiz meu marketing pessoal. Acho que esse foi o ponto de virada, aí que eu me tornei empresária. Foi a primeira vez onde desenvolvi uma cor diferente, tem a ver de você tentar fazer algo diferente, tentar encontrar um gap de mercado. Sempre tem alguma coisa que você possa criar dentro da sua identidade, dentro do que você acredita. Eu já tinha um emprego, já tinha meu salário, tudo que vinha do blog eu guardava numa poupança separada, porque eu falava “isso aqui é muito efêmero”, isso aqui é meus 5 minutos de fama”, eu não acreditava, acreditava desacreditando. Eu tinha meu pé muito cravado no chão, tanto que eu demorei muito para largar a redação, já tava com um monte de coisa acontecendo na minha carreira, coleção já lançada, e ainda tava na redação. Aí eu resolvi falar para a empresa transformar toda a comissão que eu ganharia do batom em mais batons, porque eu queria usar esse batom para fazer um network, mandar para as pessoas, pra me apresentar: “eu sou a Bruna Tavares, eu tenho um blog, acabei de desenvolver um batom, um projeto pioneiro”. O bom de ser jornalista é que eu mesma já faço meu release. Fiz isso e isso foi uma coisa essencial, porque além da cor ser muito criativa, diferente pra época, eu transformei tudo em batom e fui enviando pra outras blogueiras, enviando para jornalistas… Pessoas que eu queria que conhecessem meu trabalho, mas eu não sabia muito qual o approach. Eu falei “gente, esse batom vai ser meu cartão de visita”. E foi realmente, não só para mim, Bruna Tavares, mas para o blog, que aumentou 10 vezes as visitas, eu fui chamada pra ser blogueira da Gloss também, e a coisa foi fluindo depois dai, tudo foi crescendo, o blog foi crescendo, minha autoridade foi crescendo, eu abri empresa pra poder faturar notas, e foi ai que aconteceu a Bruna Tavares empresária. Segui nessa linha e cá estou, hoje sou referência nisso. Fui a primeira marca digital de blogueira, blogueira mesmo, raiz, e tê distribuída em todas as lojas, todas as grandes redes de varejo e no digital. 

Clara – Você abriu o mercado, você abriu portas e é super uma inspiração! Eu queria voltar para o direito de desejar, para a coisa de ser desejante. Alguma pessoa já tentou te fazer sonhar menos?

Bruna – O tempo todo, né? Hoje mesmo eu estava falando com um fornecedor, e ele falou assim: “você é atrevida, você vai lá e pergunta, você vai lá e faz”, então eu sou essa pessoa que quer fazer coisas diferentes. Agora mesmo vou ter 3 lançamentos no final do ano, que eu sou maluca, o pessoal fala muito isso. Quando você quer criar novidades, o tempo todo vai ter gente tentando diminuir, não por mal, mas muitas pessoas se assustam com essa vontade minha de fazer diferente, de ser Pioneira. Se assustam com essa minha exigência de controle de qualidade, com cliente também, que é uma coisa que eu acompanhei muito essa evolução de realmente entregar, de ter cuidado. Mas no começo eu acho que o que pesou muito, e que hoje eu falo “nossa, ainda bem que eu tive uma cabeça boa”, é que dependendo do dia que eu tô, uma coisa vai cair em mim e aquilo vai mexer muito comigo. As pessoas me cobravam muito “ai, Bruna, você não pode se afetar, você não pode ser tão sensível assim”. Qualquer coisa que a gente fala, ou que a gente briga, ou que a gente questiona, as pessoas sempre vão colocar a gente nesse lugar “ai, você sensível demais”, “ai, você é melindrosa demais”, quando na realidade você tá querendo só que tenha qualidade, que tenha melhoria. Hoje eu entendo que é muito resquício de machismo mesmo, tanto que às vezes eu levava meu marido em algumas reuniões só para ele ser o testa de ferro, para às vezes facilitar para mim algumas coisas, conseguir mais rápido. Mas agora tem que aguentar, tem que me engolir. Teve muito isso de falar para mim que eu tava no caminho errado, que tentar desenvolver uma marca era uma coisa completamente fora do rolê, que eu devia fazer mais publicidade. Eu lembro que eu demorei muito para ir para o YouTube, e quando eu fui, fazia só vídeos de close, não aparecia muito. Isso é uma coisa que questionam a mim até hoje, “você devia mostrar mais sua vida”, “você devia aparecer mais”, “você devia interagir mais” e tal. E eu não tenho nem tempo nem psicológico pra isso, eu galguei toda a minha carreira justamente não em cima da minha imagem e do meu dia a dia, porque eu sei que não é minha pegada, entendeu? Sempre ouvi muita crítica com relação a isso, “você tá perdendo dinheiro”, por eu estar focada no desenvolvimento da minha marca, que ninguém tava enxergando isso ainda como um negócio. Depois todo mundo enxergou e foi atrás de mim me pedir conselho, né? [risos]. Mas tudo bem, a gente vai seguindo. Eu tenho uma carreira pública, ao mesmo tempo não sendo tão pública. Eu acho o máximo que muitas pessoas conhecem minha marca e não conhecem, nem sabem a minha cara. Nessa hora, eu volto para o lugar de olhar as minhas inspirações: Quais são as marcas que eu consumo? Quem são os nomes que eu consumo? São marcas que são, grande maioria, lideradas por mulheres. Eu amo Pat McGrath por exemplo, uma mega referência para mim, a própria Estée Lauder, Laura Mercier, Anastasia Beverly Hills. Você sabe os nomes, mas você não sabe exatamente as pessoas, não sabe quem é. E essas são as minhas inspirações. É por isso que ajuda tanto eu ter entendimento de mercado, entendimento do que eu sou, do que eu quero ser, do que eu deixo de ser e tá tudo bem, porque daí eu não entro muito nessas pilhas. Mas dependendo do dia eu entro na pilha sim, entro em questionamentos, muito porque eu tenho um caminho de vida pública, de marcas e de exposição que é muito diferente do que a gente vê. Eu fujo muito de polêmicas, às vezes eu fico uma semana, duas semanas sem aparecer, só repostando conteúdo ou mostrando swatches. E faz parte, né, eu me aceito assim e meu público me aceita muito assim.

Clara – Naturalmente, toda escolha abre algumas portas e fecha outras, né? Eu penso assim nas pessoas que me incentivaram a sonhar, acho que a minha mãe é a primeira delas, a minha mãe sempre acreditou, nunca achou que um sonho fosse absurdo. Tudo tava dentro da realidade, dentro do que eu podia fazer, do que era alcançável com esforço, com estudo, porque para ela a coisa mais importante do mundo é educação, e eu trouxe isso para mim. E como isso é potente, porque realmente a gente leva para vida. eu sou uma pessoa totalmente ambiciosa, sou uma pessoa que quer muitas coisas. Agora sim, também já ouvi poucas e boas sobre isso, a diretora da escola onde eu estudava falou para minha mãe que o máximo que eu ia conseguir ser era secretária de alguém. Pela minha aparência, porque eu não tinha o nome de família. Era uma sensação de que eu tinha que me provar muito mais, e que sempre ia ter alguém duvidando da minha capacidade, custei a perceber que o problema era deles, não meu.

Bruna – Os rótulos, os estereótipos, atrasam tanto nosso desenvolvimento, né? Isso é tão triste, porque eu também olho para trás e encontro tantos momentos que eu podia ter brilhado mais, que eu podia ter sido mais saudável, mais feliz, que eu podia ter acelerado mais minha carreira. Mas os rótulos que as pessoas insistem em colocar na gente tornam tudo mais difícil. Quando eu engravidei na faculdade, você imagina cada coisa que eu ouvi, né? Antes, as pessoas falavam “a Bruna é inteligente demais, entrou na faculdade com 17 anos”. Quando eu engravidei, foi assim “Ih, acabou, agora vai ser um filho atrás do outro”. Mas eu falo até para minha filha: Ao mesmo tempo que isso maltrata a gente, também dá um sangue nos olhos. Me deu assim uma vontade que eu falei: “ah, então é isso que vocês pensam? vocês vão ver daqui um tempo quem que vai estar e quem não vai estar”, entendeu? É isso.


Continua…



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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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