Depois do fim
Há quem pense que o fim é o término, o ponto final, a pausa brusca, a briga.
Ledo engano.
O fim é o ponto continuando, a vírgula, as reticências… Por isso, depois do fim, não continue. Pare num minuto congelado em que não o tenho, mas também não pertence a ninguém. Não é dela, dele, deles, de si mesmo.
Não conheça novos lugares e nem faça aquela viagem internacional que tanto queria. Depois do fim, não engorde e nem emagreça, não chore e nem fique feliz.
Depois do fim, continue tendo os mesmos gestos, gostos, faces e as mesmas esquisitices. Porque eu preciso que, mesmo depois de tudo e do tempo, você continue você. Continue tomando café coado e tremendo as mãos de nervoso. Não deixe de ser tímido e nem de carregar livros gigantescos na mochila estourada, por favor.
Seja você porque preciso que esteja lá. Que esteja lá – aí -, escondendo a sua profundidade depressiva por dentro e sorrindo do lado de fora. Que esteja no seu canto, parado, calado, esperando que, um dia, eu possa voltar. Para enfiar a mão dentro d’água e arrancá-lo do seu mergulho profundo no lago Ness.
Depois do fim, não se atreva a olhar para o lado, abrir espaço no coração ou mudar seus conceitos sobre o que deveríamos ser. Aceito que continue reclamando consigo mesmo do mundo, muito mais do que fazendo algo para mudar qualquer coisa. Pode continuar com as suas ideologias transviadas e os seus textos traduzidos que ninguém vai ler. Não mude nada, não evolua e não retroceda.
Que fique assim, pra mim, uma possibilidade de sim… Depois do fim.
Fotografia: Seren Coşkun
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