Eu não sei falar de amor

Nunca soube falar de amor

Quem me conhece, sabe bem: não me faltam palavras. Posso manter uma conversa sem qualquer adrenalina mental sobre cabelos, política, viagens, família, sonhos, religião, culinária. Consigo discorrer longamente sobre filmes, livros, programas de TV, músicas, artigos acadêmicos e memes moderninhos. Analisar a fundo as notícias falsas que se espalham nas redes sociais e formar opiniões profundas sobre quase qualquer assunto que seja jogado na mesa. Mas eu não sei falar de amor.

Confesso. Aspirante a escritora que sou, já tentei por diversas vezes dispor palavras e frases e pontos continuando em rascunhos romantizados. Já me peguei anotando frases soltas em guardanapos de papel e decorando pequenos fragmentos textuais que se formaram durante o banho. Porém, falar de amor, amor mesmo, como é, nunca consegui.

Hoje, quando olho para trás, me pergunto se essa grande dificuldade não vinha da minha ignorância frente ao sentimento mais famoso de todos. A gente se engana, não é mesmo? A gente se engana ao cair de amores por histórias de cinema, músicas românticas e contos felizes por aí. A gente se engana que o que quer sentir é, de fato, o que a gente sente.

E aí eu conheci você.

Não posso dizer que foi amor à primeira vista, à segunda ou à terceira, até porque não sei dizer exatamente se eu que sinto amor por você ou se você é o próprio amor e eu sigo o meu caminho de não sentir nada. Portanto, não sei dizer em que exato momento me apaixonei e fui tomada pelos seus encantos, mas posso dizer que fico mais feliz a cada tique do relógio. Tique-taque. Tique. Taque.

Andei pensando… Se usassem a sua foto para descrever o “amor” no dicionário, seria o fim das comédias românticas. Tolice! Seria o fim do cinema como é hoje, da música, do entretenimento, da televisão. Se os dicionários usassem você para descrever o amor, seria um prejuízo danado.

Pense comigo: se todos soubessem quem você é, não seriam mais necessárias tantas análises e descrições que viram filmes e dramas para narrar as sensações, os sinais, as consequências. Você representa tudo o que há para se dizer sobre o amor e um pouco mais.

Os seus olhos castanhos que ficam pequenos quando sorri. A mão grande que segura o volante e o meu cabelo com firmeza. Os ombros largos que anunciam a sua presença. E a risada! Para onde iriam as serenatas de amor se a sua risada estivesse disponível no Youtube? O jeito como morde os lábios ao sorrir ou olha para cima – e pisca – enquanto fala. O seu hábito de falar com as mãos. E as suas mãos quando tocam, seguram, engolem as minhas.

Tudo em você diz de um jeitinho só seu: “amor”. Com aquele tom sussurrado que usa quando quer me falar bobagens pela manhã, mas ainda está sonolento demais para formar orações inteiras. Amor, amor, amor… Ecoam as paredes do quarto cor de rosa.

E eu já não sei se os sussurros saem das paredes brancas, da sua boca ou, bem, da minha. Mas, ué, como pode? Se eu nunca soube falar de amor! Com meu sorriso meio torto, pergunto e respondo aos meus botões: continuo sem saber falar de amor – essas coisas não se aprendem. É só que, agora, aprendi a falar de você. E, convenhamos: isso basta.

“Amar é dar a alguém a paz que o mundo tira”. 

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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