5 conselhos que eu gostaria de ter ouvido quando comecei minha marca

Conselhos para quem quer abrir a própria marca

Me chamo Manoela, moro no Rio de Janeiro, tenho 22 anos e uma marca de lingeries. Meu amor por peças íntimas começou quando eu ainda nem usava sutiãs e só cresceu durante os anos, culminando na criação da Under the Unders. Agora, depois de um ano trabalhando na marca incansavelmente, consigo olhar pra trás e ver tudo que passei, todas as dificuldades e alegrias que encontrei no meu caminho. Ainda assim, gostaria de ter ouvido alguns conselhos no começo da minha jornada.

Se você está começando a criar sua marca, se esse é seu sonho ou se está sem nada pra fazer mas gostaria de saber como é a “glamurosa” vida de quem trabalha com isso, sugiro que prepare um chá, fique confortável e escute esses conselhos.

1 – Você vai se frustrar

Isso quer dizer que não vale a pena? De forma nenhuma. Quer só dizer que provavelmente você tem muitas expectativas para seu negócio. E quer que tudo corra de forma perfeita em um lindo ciclo de criação > produção > venda > fotos lindas dos seus clientes no instagram. Mas a moda, meus amigos, infelizmente é um pouco mais complexa do que isso e acaba incluindo nesse processo um monte de erros.

A peça que está na sua cabeça é linda, mas o croqui nunca sai da forma que você esperava. Então você consegue desenhar tudo, mas a pessoa responsável pela modelagem comete algum erro. Modelagem feita, a peça piloto tem algum problema, mas é difícil dizer quem errou, então volta de novo para a modelagem. Enquanto isso, o preço do tecido aumenta. Aquele tecido maravilhoso que você pretendia comprar (mas não quis se precipitar, porque é uma marca pequena ainda) acaba, e você não tem mais pra oferecer pros seus clientes que, obviamente, amaram muito a peça feita com esse tecido. Na hora da produção, descobre que todas as peças vermelhas do tamanho 44 vieram com um detalhe errado e precisa que tudo volte antes de vender.

Acho que deu pra entender a ideia. Depois de um tempo você começa a se acostumar com a frustração e a chorar menos pelos problemas, prometo.

2 – Você precisa de dinheiro (se não quiser ficar na produção artesanal)

Ok, é óbvio que existem exceções pra tudo (embora eu me recuse a acreditar que exista e uma marca que nunca teve problemas), mas estamos lidando aqui com a regra. Você vai precisar de dinheiro.

Quanto dinheiro? É impossível dizer, mas provavelmente mais do que o que você gastaria em uma situação normal. Dependendo do tamanho que você quer que sua marca tenha, os gastos podem começar na casa dos 7 a 10 mil reais… e não existe um limite para eles. Para ser honesta, não são exatamente gastos, são investimentos. E-commerce, loja física, materiais, aviamentos, embalagens, envio, taxas, mão de obra terceirizada (caso haja), funcionários (caso haja), aluguel…

A melhor forma de lidar com isso é se planejar. Antes de começar, pesquise os preços e descubra o quanto vai gastar para começar, assim você pode pensar em como vai conseguir esse dinheiro.

3 – Você vai ser criticada

Acho que esse é um dos conselhos para a vida, né.

Vão falar mal de você. Vão dizer que suas peças são horríveis. Por mais que os conselhos iniciais de todo mundo sejam “ignore”, você sabe que não dá, porque a sua marca é quase como um filho. Com o tempo esse tipo de coisa vai ficando irrelevante, mas continua chata. Meu conselho não é ignorar, e sim ouvir. Escute bem o que te dizem, porque isso vai te ajudar muito.

Primeiro, tente verificar se a crítica tem algum tom de verdade e se, mesmo rude, pode ser construtiva de alguma forma. Todo mundo tá te dizendo que aquela peça in-crí-vel é cafona? Vale a pena deixar o seu amor por ela de lado e entender que pode não ser ideal, mesmo. Isso pode ser uma questão de público alvo, de tendência momentânea ou só de uma coisa que não deu certo mesmo. Vale ouvir.

Se a crítica não for construtiva de nenhuma forma e você, após reflexão, notar que aquela pessoa só foi rude pelo prazer de ser, senta e repete esse mantra que salvou minha vida: quando as pessoas falam de você, elas falam muito mais sobre elas do que sobre você. Ou seja, se alguém critica algo de forma extremamente fervorosa, se tem a intenção de te machucar, se faz comentários só para atacar sua marca de alguma forma, isso diz bem mais sobre o caráter, as prioridades e a vida que essa pessoa leva. Não é sobre você. Pode continuar que você ta arrasando.

4 – Você precisa entender um pouquinho sobre tudo

A melhor forma de garantir que tudo saia exatamente da forma que você deseja é fazer você mesma. A segunda melhor é entender um pouco de todos os processos para poder apontar o que deve ser mudado caso algo não esteja da forma que você espera.

Estude sobre negócios. Sobre modelagem, pilotagem, costura, vendas, marketing, design gráfico, cores, estamparia, história da moda, cool hunting, ferramentas. Não precisa fazer mestrado em todos esses itens, só uns artigos e uns livros já te ajudam bastante.

Assim, depois que aquela peça chegar da produção com um problema no viés, você pode chorar um pouquinho (normal) e sentar pra apontar onde foi o problema. Se você não souber nada, vai acabar falando com o pessoal da produção, que vai culpar o cortador, que vai culpar o pessoal do risco, que vai culpar a modelista, que vai dizer que a culpa é da pilotista, que vai dizer que nunca fez nada de errado e a culpa é mesmo do controle de qualidade. Nisso você já perdeu alguns dias, sua paciência e até um dinheiro.

Vale mais a pena se prevenir. Afinal, como já vimos, você vai se frustrar mesmo, então que pelo menos se frustre pouco.

5 – Não tem glamour, mas tem realização

Depois de todos esses conselhos quase deprimentes, você deve estar achando que minha intenção é te desmotivar, mas eu juro que não é. Eu quero mesmo é ver novas marcas sendo criadas, novas ideias aparecendo e novos designers no mercado.

Não tem glamour no mundo da moda, a não ser que você seja a Alessandra Ambrósio. E, mesmo assim, eu acho que a vida dela deve ter suas dificuldades. Você vai beber aquele champagne no lançamento da coleção, sim, mas até chegar lá vão ser muitas noites mal dormidas com preocupação, muitos problemas e muitos dias ralando.

Só que depois de todos esses dias de um trabalho que parece te desgastar tanto quanto correr maratona sem estar preparado, você vai descobrir que aquele champagne no final de tudo não é o que importa. E acredite em mim, eu gosto muito de champagne.

O que importa mesmo é que você vai ver seu trabalho finalizado, suas peças expostas, as pessoas elogiando tudo. Mesmo que elas não saibam os detalhes de tudo que você passou, de alguma forma aquilo vai ser suficiente para aplacar as frustrações deixadas durante o processo. Essas mágoas são as responsáveis pela criação da experiência, e depois de sentar no sofá com o look que você escolheu para o lançamento e dar aquele enorme suspiro, você vai levantar, aliviado e poder, finalmente, dizer…

Vamos começar a próxima.

Quais conselhos você gostaria de ter ouvido antes de fazer o que faz hoje? Conte nos comentários!

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27 anos, nordestina em SP, publicitária graduada e pós graduada pela USP, escritora e apaixonadíssima por moda, cinema, viajar e sorvete. Fico entediada bem rapidinho com as coisas, então, costumo fazer várias ao mesmo tempo. Vivo à procura de encanto.

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