Carta aberta para quem ama cinema
Eu me lembro do primeiro filme que vi no cinema. Mulan, Cinemark do Shopping Jardins, lá em Aracaju-SE, eu tinha entre quatro e cinco anos de idade.
Muitas das sensações que temos quando somos crianças mudam, enfraquecem ou simplesmente desaparecem quando crescemos… Mas a mistura de batimentos acelerados, borboletas na barriga e coração preenchido que senti nesse dia nunca mudou.
Um bom filme continua a fazer o meu coração disparar. Ainda desperta todos os meus sentidos como uma rajada de vento congelante. Também continua a me fazer sentir completa – e toda vez é como a primeira. Entrar numa sala de cinema sempre vai ser como pisar em um mundo de possibilidades onde, no melhor dos cenários, viajarei por universos paralelos e realidades distantes e, no pior deles, terei uma experiência extra-sensorial diferente.
Quem ama o cinema, em geral, é apaixonado também pela literatura. E é fácil entender o porquê: as duas artes escancaram as portas das vidas que jamais viveríamos se não fosse por elas. As duas nos apresentam poderes impossíveis, pessoas infinitamente melhores do que as de carne e osso e abrem caminhos para amores platônicos com os quais amores reais simplesmente não podem competir. Não seria justo – e não é: o “e se” sempre será melhor do que o que é de fato.
Só quem genuinamente ama cinema já sentiu a completa gratidão em estar vivo depois de um filme. O amor e a alegria por ter podido viver até aquele momento e por ter tido a chance de presenciar aquela obra-prima.
Só quem é perdidamente apaixonado por cinema sabe o que é, dias depois de um filme triste, lembrar a dor da personagem e sentir um aperto no peito.
Só quem é cinéfilo sabe o que é reservar a cota de cinema do mês, porque, se depender dele, essa é prioridade e não pode faltar. E se, tristeza da vida, faltar de qualquer maneira, que estejam reservadas noites e tardes de antemão para explorar a Netflix, o Stremio e o PirateBay, como não?
Só quem ama cinema de paixão sabe como é possível uma amizade sincera começar a surgir no instante em que duas pessoas descobrem que amam os mesmos filmes, os mesmos diretores e dão valor às mesmas coisas na hora de decidir se amaram um roteiro ou não.
Alguns filmes fazem parte de quem somos. O cinema, de maneira consciente ou não, ajuda a formar a nossa personalidade, os nossos sonhos, os nossos gostos, até o nosso caráter e o que esperamos da vida e das pessoas ao nosso redor. Os melhores conselhos que eu já ouvi na vida não vieram de conhecidos meus, mas de personagens.
Foi num filme infantil que descobri que, às vezes, são necessários apenas 20 segundos de muita, muita coragem para que coisas incríveis aconteçam. Com a melhor saga de todos os tempos, aprendi que são as nossas escolhas, muito mais do que nossas qualidades, que revelam quem somos. Com Rhett Butler, aprendi a, francamente, não ligar a mínima. Com um chapeleiro incrível, entendi que tudo bem, as melhores pessoas são loucas mesmo. Com uma charmosa e arisca Holly, aprendi que, não importa para onde eu corra, sempre encontrarei a mim mesma. Com o mago mais sábio do mundo, descobri que podemos, sim, reencontrar as coisas que perdemos, mas nunca as que abandonamos. E, assim, o cinema foi moldando quem sou. Vai moldando quem somos.
Agora, deixo aqui duas perguntas:
Qual o último filme que fez com que você se sentisse feliz por estar vivo?
Qual o último filme que te ensinou algo para a vida inteira?
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